O vazio da pressa e do dinamismo
A pressa, o
nervosismo, a instabilidade, observados desde o surgimento das grandes cidades,
alastram-se nos dias de hoje de uma forma tão epidémica quanto outrora a peste
e a cólera.
Nesse processo
manifestam-se forças das quais os passantes apressados do século XIX não eram
capazes de fazer a menor idéia.
Todas as pessoas
têm necessariamente algum projeto. O tempo de lazer exige que se o esgote. Ele
é planejado, utilizado para que se empreenda alguma coisa, preenchido com
vistas a toda espécie de espetáculo, ou ainda apenas com locomoções tão rápidas
quanto possível.
A sombra de tudo
isso cai sobre o trabalho intelectual. Este é realizado com má consciência,
como se tivesse sido roubado a alguma ocupação urgente, ainda que meramente
imaginária.
A fim de se
justificar perante si mesmo, ele dá-se ares de uma agitação febril, de um
grande afã, de uma empresa que opera a todo vapor devido à urgência do tempo e
para a qual toda a reflexão — isto é, ele mesmo — é um estorvo.
Com frequência tudo
se passa como se os intelectuais reservassem para a sua própria produção
precisamente apenas aquelas horas que sobram das suas obrigações, saídas,
compromissos, e divertimentos inevitáveis.
Theodore Adorno
1903/1969
Filósofo, sociólogo e músico alemão
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de carne suína
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