Eu ela e a escrita
Eu ela e a escrita existimos desde o
princípio. A escrita forma-se em mim, passa por ela e volta à minha pele num
jogo sensual e íntimo.
É um ser maleável aos gestos que
executamos, vive e morre com os nossos impulsos. Quando se ausenta deixa
sinais.
Faz-nos confidências da sua vida
errante, elabora sentimentos que não esperávamos que tivesse quando junta ao
nosso, o seu instinto criativo.
Assim, utilizo agora palavras que
nunca pensei vir a escrever. Aceito-as porque as
sei da espécie da personagem que habita connosco, conivente com os erros que
cometemos.
Quando adolescente, passava o tempo a
ler o dicionário, apercebendo-me da corrosão de algumas palavras, do seu poder
destrutivo. Noutras havia sombra e um peso monstruoso.
E as que ao tempo foram luminosas,
irradiavam um brilho que se colou aos meus dedos. Eu gastava os dias a
limpar-me dessa luz até não haver em mim resíduos de leitura.
Descobria o esquecimento, onde o
poema veio a ser abismo, outra vida onde o sorriso da morte teve muita
importância.
Amei a imperfeição do ser humano.
Revisitei a infância e aquilo que em nós é real. Não soube prescindir da
beleza.
Isabel de Sá,
Escritora
e artista plástica
nascida
em 1958 em Portugal
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SOPA
DE CEBOLA
Boletim
de Arte e Cultura
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