Reflexão sobre o não ser famoso
Não sou um exemplo de coerência, embora consiga manter atitude
condizente com o discurso do momento. Não raro, mudo a direção dos meus passos,
da mesma forma que transmudo o pensar para isso ou para aquilo.
Sinto-me uma figura dual, quem sabe, até bipolar. Um vaidoso no limite
de Narciso, ao mesmo tempo, se esquivando de qualquer possibilidade de ser
famoso.
Aliás, a fama me incomoda, por ter a sensação que terei de dividir
minha individualidade, compartilhar minha privacidade com pessoas que mal
conheço. Existem coisas que só dizem respeito a mim.
Conceder autógrafos seria um sacrifício épico. Um caminhar para o
Calvário.
Nada contra quem faz sucesso, que gosta da fama, como nada de
errado se enriquecer com a fama.
A vida é feita de escolhas- frase óbvia, mas cabe aqui – e eu
escolhi não querer ser famoso. Grande contradição, um vaidoso, de fazer inveja
a qualquer Narciso,, não tolerar seu próprio sucesso. Talvez nem tenha talento
para ser um famoso, porém há pessoas, mesmo sem o devido talento, vivem
correndo atrás da fama.
Mas vai além, com a fama vem naturalmente a idolatria, ser
responsável pela admiração do outro me causa temor. Não saberia como me
comportar.
Ser admirado por algo que não sou. E se o sou, que importância
tem?
Pensar que posso ter alguns fãs e seguidores me apavora. Não tenho
a menor idéia de como se porta um ídolo ou um guru.
Gosto de ser elogiado por um texto ou por um trabalho – afinal sou
um Narciso – porém me alegra muito mais o compartilhar de minhas reflexões.
Este compartilhar me faz sentir como é bom ser famoso.
Jorge Nicoli
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CASA SETE
Lingüiça de carne supina e hamburguer caseiro
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