domingo, 20 de dezembro de 2015




Estatuto e eternidade

Não me entendes, caríssimo Sebastião: dizes que misturo tudo. Dizes que é incomparável a liberdade de que hoje dispomos para imaginar, escolher, criar, viver.

Pelo menos na nossa civilização, dizes. E eu rio-me do que tu dizes, e tu zangas-te com o meu riso, cuidando, como tanto se cuida naquilo a que chamas a nossa civilização, que me rio de ti.

Querido Sebastião, rio-me porque aquilo a que chamas a nossa civilização ainda nem sequer começou.

Importa-me a liberdade, sim, mas vejo que a usamos ainda e apenas como uma outra espécie de grilhão.

Vestimos a liberdade como outrora vestíamos a submissão; ela não é mais do que um traje de baile, com um carnet em que apontamos os nomes daqueles com quem dançaremos para brilhar diante dos outros.

Democratizou-se o anseio de estatuto, mas não conseguimos ainda sair dele. É isso que vejo, Sebastião. 

Som e sentido, continente e conteúdo dilacerando-se, hoje como sempre, até que nada reste sob a superfície hiperbólica da realidade.

 Dizes que aquilo a que eu chamo estatuto pode também chamar-se ânsia de eternidade. Mas eu vejo tão pouca eternidade nos sonhos das pessoas, Sebastião.

A eternidade que somos conduzidos a aspirar é a da juventude - o lugar mais rápido, inseguro e variável da existência humana. O lugar do querer ser. Não vês o contra-senso que isto representa? A violência? A prisão? 


Inês Pedrosa,
Jornalista e escritora
nascida em Portugal em 1962

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GRUPO DE TEATRO
“SÁBIA INCECISÃO”

O Teatro como Arte









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