terça-feira, 29 de dezembro de 2015


A religião como ficção

- A fé é uma resposta instintiva a aspectos da existência que não podemos explicar de outro modo, seja o vazio moral que percebemos no universo, a certeza da morte, a própria origem das coisas, o sentido da nossa vida ou a ausência dele.

São aspectos elementares e de extrema simplicidade, mas as nossas limitações impedem-nos de responder de modo inequívoco a essas perguntas e por isso geramos, como defesa, uma resposta emocional. É simples e pura biologia.

- Então, a seu ver, todas as crenças ou ideais não passariam de uma ficção.

- Toda a interpretação ou observação da realidade o é necessariamente.

Neste caso, o problema reside no fato de o homem ser um animal moral abandonado num universo amoral e condenado a uma existência finita e sem outro significado que não seja perpetuar o ciclo natural da espécie.

É impossível sobreviver num estado prolongado de realidade, pelo menos para o ser humano. Passamos uma boa parte das nossas vidas a sonhar, sobretudo quando estamos acordados. Como digo, pura biologia.

Carlos Ruiz Zafón,
Escritor espanhol
nascido em 1964

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