A manhã
Um
céu nublado dá o tom cinza para a amanhã, a água empoçada num canto da calçada
dá a nota do dia de ontem. Choveu. Chuva que molhou os estandartes dos
indecisos cordões que marchavam para lugar algum. Um bêbado, sobrevivente da
farra de ontem, grita impropérios contra alguma instituição, de quebra,
contra alguma autoridade. A voz encharcada se perde no meio do barulhento bater
de asas das aves de rapina que povoam os ares da cidade.
Da
janela um obeso senhor a tudo observa, degustando torradas diet e bebericando
chá esverdeado. Na sala a moça negra limpa o chão em que calçados de couro de
um animal ou outro pisaram, ajeita a mesa em que fora servido lauto
jantar, onde senhoras e senhores, vestidos a caráter discutiram, entre um gole
de champanhe francês e outro de cerveja canadense, a compra de bugigangas
americanas. Sorvendo licores importados e Vinho do Porto discutiram a violência
dos deserdados.
Nas
ruas, ainda amanhecendo, mendigos e ratos disputam o lixo das imponentes
mansões, sob os olhares impávidos da bandeira verde e amarela. Enquanto isso,
homens fardados e armados marcham ao som de uma ópera bufa.
Jorge
Nicoli
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