Só pensamentos
Sentar
ao Sol já não é tão simples como antes. A vida tornou-se uma correria sem fim.
O dia sendo tragado pela noite, à noite deixando rastros durante o dia. E a
vida lá fora não espera nada, nem ninguém. Não é fácil perceber que a cada
passo para frente, a lacuna entre os sonhos e a realidade aumenta, fica perdida
entre um ponto, uma linha estreita que me separa do destino que escolhi. Já me
confundo com os personagens dessa história. Sei lá, me pego falando pelas ruas,
discutindo existência de seres que nem eles mesmos sabem que são possíveis ou
prováveis. Sinto que deixei algo passar por estes vinte anos de intervalo, sai
um instante para caminhar, e a densa floresta se fechou as minhas costas sem
que eu pudesse retornar. Restou apenas seguir. E depois de anos em sua
companhia, agora me liberta. E já não sei o que fazer com a liberdade imposta,
suposta, disposta e exposta com tanta vontade. Pensei que seria diferente,
desejei coisas em sonhos com início, meio e fim. Hoje não me lembro de metade
das tramas, dos cenários, nem dos personagens. Esperei sentada por um príncipe
que nunca chegou, sei que se perdeu pela vida. Não era para ser, nunca teve
intenção de vir, muito menos de ficar. Mas encontrei alguns sapos pela vida. E
beijá-los não foi tão difícil quanto parece, deixa-los partir foi ainda pior.
Acostumei-me com as brigas, com os risos soltos pela rua. Mas precisava seguir
em frente, erguer os olhos, esquecer o passado. Esquecer das vezes que tentei
encontrar o que pudesse preencher o vazio que me acompanha. Absorver os medos e traumas causados por
cada perda. Refazer cada molécula de mim mesma, e saber que nada poderia ter
sido, mas de alguma forma será, no momento certo...No meu momento.
Beatriz
Cirino
Letras & Cia.
parceira do
Sopa de Cebola
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