Que preguiça III
Impotência
Se a violência é destrutiva do poder
como um dia comentou a filósofa da política Hannah Arendt, podemos dizer que a
preguiça também nega o poder, mas não por contradizê-lo e sim por localizar-se
onde ele falta. A preguiça é o nome que se dá a uma forma de impotência, à
potência que não se realiza. O preguiçoso não é simplesmente aquele que “não
pode”, mas aquele que não tenta, não deseja e, no limite, não se permite sair
da inatividade na qual está lançado. No fundo, o impotente é aquele que
“poderia, mas não pode”. Porém, é preciso lembrar que “não poder” também está
ao alcance de todo aquele que pode. Quem faz algo poderia sempre “não ter
feito nada”. O que nos ensina que fazer ou não fazer tem relação direta com a
possibilidade de escolha.
A preguiça neste sentido não é o
ócio, mas o seu momento negativo, pejorativo. Assim como o negócio é a negação
do ócio, mas num sentido positivo, a preguiça é a negação do ócio num sentido
pejorativo. Por isso é possível dizer que a preguiça é autoritária, porque ela
é fechada, não deixa espaço para as novidades da vida, para outros olhares,
para a aceitação de novas potências. Se há segredo em conviver com a preguiça
nossa de todo dia, ele está na possibilidade de saber sua diferença com o
descanso necessário ou a falta de desejo pela vida e suas possibilidades. É
muito bom não fazer nada quando isto é uma escolha, mas não é nada bom ser
escravo da própria impotência.
Márcia Tiburi
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Chamomila
parceira do
Sopa de Cebola
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