Viver não é preciso
O
sambista carioca Candeia (1935/1978) compôs, entre tantas coisas belas, Preciso me encontrar .Tem em seus
versos: “vou por ai aprocurar. Rir para não chorar, se alguém por mim perguntar,
diga que eu só vou voltar, quando me encontrar”. Ele procura a si próprio perdido
em algum ponto da vida e, talvez, seja mais fácil encontrar a agulha no
palheiro do que se encontrar.
O
filósofo prussiano Nietzsche (1844/1900), num outro contexto, fala algo como “é preciso ser perder, vez ou
outra, para poder se encontrar” e podemos encarnar Fernando Pessoa (1882/1930),
com seu “viver não é preciso”. É isso,
não há nada preciso na vida, os caminhos são tortuosos, repletos de obstáculos,
onde não há atalhos. Por tudo isso
que nós nos perdemos, na maioria das
vezes, involuntariamente, como na música de Candeia, outras, voluntariamente,
sugerido pelo filósofo. E como se encontrar? Se não sabemos onde nos perdemos e
em qual momento isto aconteceu.
O
perder-se de si mesmo é entrar num rodamoinho de situações, aparentemente insolúveis,
é girar em torno de seu próprio eu, é dar voltas numa pequena praça com várias
ruas e entrar sempre na que não tem saída, É o caminhar com os olhos vendados
por uma escura floresta. Candeia diz que quer ver “o sol nascer, as águas do
rio correr, ouvir os pássaros cantar”. Talvez seja
uma forma de se encontrar, o encontro com as coisas da natureza. O tempo
para refletir sobre a própria vida. “Quero nascer, quero viver, clama o
compositor, que poderíamos substituir por quero re-nascer, quero re-viver.
Mas
há o se perder sugerido por Nietzsche que é o de deixar a estrada que leva ao
nada para embrenhar nos trechos
improváveis, é deixar de lado a alma engessada por conceitos para se apossar da
liberdade do se permitir os enganos. È o se encontrar consigo mesmo e ter a
percepção da imprecisão da própria vida. Como diz Fernando Pessoa.
Bem,
como sempre digo, não sou psicólogo e
nem tenho pretensões em escrever livro de auto-ajuda. Pode ser que não tenha a
devida competência para ambas, portanto apenas faço reflexões e, não raro, vago
por caminhos desconhecidos.
Emílio Migliori
É colaborador do Sopa de
Cebola
Mandala
parceira do
Sopa de Cebola
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