sábado, 25 de abril de 2015




Que preguiça I

A preguiça é um vício

Há preguiça demais e pouca análise dos seus motivos. Até por preguiça. Até parece a grande vitoriosa diante das possibilidades da vida. A preguiça é redundante. Seu nome próprio é a vitória sobre qualquer esforço, até o do pensamento que parece não exigir força alguma. Mas por qual motivo?
Os filósofos antigos se ocupavam da preguiça como um dos sintomas da melancolia que compõe a pré-história da depressão atual. A preguiça era falta de vontade de tudo e qualquer coisa. Na Idade Média, São Tomás de Aquino tratou-a entre os vícios capitais que se opunham às virtudes. Virtude, para o filósofo santo, era tudo aquilo que dizia respeito à realização da natureza de algo. Por exemplo: a virtude da faca é cortar, a virtude do homem é raciocinar, a virtude do cão de guarda é guardar assim como a da estante é suster livros. Neste sentido, mesmo sendo cristão, ele pensava como os antigos gregos. Vício, por outro lado, era tudo o que não alcançava seu próprio objetivo interno, era como perder-se no meio do caminho: uma faca que não corta, um homem que não raciocina, um cão que não guarda, etc. Mas por que algo deixaria de fazer o que deve, ou deixaria de realizar o motivo pelo qual existe?
A definição tomista de preguiça é importante ainda hoje: ela se caracterizava como uma tristeza que impossibilitava a quem dela padecia de agir para fazer o bem. A preguiça era um torpor do espírito que impedia o indivíduo de agir. Não era a maldade, mas a inatividade.
Não é nenhum exagero a sua íntima relação com a cultura brasileira. Quando Mario de Andrade escreveu seu Macunaíma não errou nem por um segundo quanto ao sentido da preguiça que, como sério fator cultural, nos assola desde sempre.


 Márcia Tiburi,  nascida em Vacaria, RS, dia 6 de abril de 1970 é artista plástica, professora de Filosofia e escritora.
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