sábado, 13 de fevereiro de 2016


Arrumar os mortos

É preciso que compreendam: nós não temos competência para arrumarmos os mortos no lugar do eterno.

Os nossos defuntos desconhecem a sua condição definitiva: desobedientes, invadem-nos o quotidiano, imiscuem-se do território onde a vida deveria ditar sua exclusiva lei.

A mais séria consequência desta promiscuidade é que a própria morte, assim desrespeitada pelos seus inquilinos, perde o fascínio da ausência total.

A morte deixa de ser a mais incurável e absoluta diferença entre os seres.


Mia Couto,

Escritor e biólogo, nascido em 1955, em Moçambique 
 

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Tel. 3157 8910


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