Existimos em função do futuro
Tentai apreender a vossa consciência
e sondai-a. Vereis que está vazia, só encontrareis nela o futuro. Nem sequer
falo dos vossos projetos e expectativas: mas o próprio gesto que surpreendeis
de passagem só tem sentido para vós se projetardes a sua realização final para
fora dele, fora de vós, no ainda-não.
Mesmo esta taça cujo fundo não se vê
- que se poderia ver, que está no fim de um movimento que ainda não se fez -,
esta folha branca cujo reverso está escondido (mas poderia virar-se a folha) e
todos os objectos estáveis e sólidos que nos rodeiam ostentam as suas
qualidades mais imediatas, mais densas, no futuro.
O homem não é de modo nenhum a soma
do que tem, mas a totalidade do que não tem ainda, do que poderia ter. E, se
nos banhamos assim no futuro, não ficará atenuada a brutalidade informe do
presente?
O acontecimento não nos assalta como
um ladrão, visto que é, por natureza, um Tendo-sido-Futuro. E, para explicar o
próprio passado, não será a primeira tarefa do historiador procurar o futuro?
Jean-Paul Sartre
1905/1980
======================
GRUPO
DE TEATRO
“SÁBIA
INDECISÃO”
O Teatro como Arte
Nenhum comentário:
Postar um comentário