quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016




Um herói não se declara

Aquele que se expõe à morte deve estar à altura de incutir à sua época a força da exasperação. Se, pois, vejo um homem até então completamente desconhecido dos seus contemporâneos aparecer afirmando que está pronto a sacrificar a sua vida e a enfrentar a morte, muito tranquilamente então  eu demitiria este profeta.

Nunca um tal homem chegaria ao ponto de ser condenado à morte pela sua época, ainda que, por outro lado, tivesse realmente a coragem de morrer e a isso estivesse disposto.

Ele não conhece o segredo; pensa evidentemente que os seus contemporâneos, os mais fortes, se encarregarão da execução, quando ele deveria ser de tal modo superior ao seu tempo que não o deixasse, permanecendo ele próprio passivo, cumprir sozinho o seu trabalho de tal modo superior que não lho indicasse mas livremente o constrangesse a sair-se bem dele.

Os juízes costumam deixar dormir a pena capital quando um infeliz desgostado com a vida deseja a morte, e tal é também a sabedoria desta geração: que prazer teria ele em ter feito perecer este herói!

Soren Kierkegaard,
1813/1855
Filósofo e teólogo
nascido na Dinamarca

====================

GRUPO DE TEATRO
“SÁBIA INDECISÃO”
O Teatro como Arte




Nenhum comentário:

Postar um comentário