Escravizados ao além
Acabar com a morte
como agonia diária da humanidade é talvez o maior bem que se pode fazer ao
homem.
O cristianismo
transformou a vida numa cruz, porque lhe pôs a consciência da morte à
cabeceira. E crentes e ateus vivem no mesmo terror.
Ora a idéia terrífica
do fim não é uma condição fisiológica, nem mesmo intelectual do homem. Nem os gregos,
nem os romanos, por exemplo, sentiam a morte com a irreparável angústia que nos
rói.
É forçoso, pois,
que se arranquem as raízes desta dor, custe o que custar. Escravizados ao além,
os nossos dias aqui não podem ter liberdade nem alegria.
Qualquer doutrina
que nega ao homem o direito de ser pleno na sua física duração, é uma doutrina
de castração e de aniquilamento.
Ir buscar ao
post-mortem as leis que devem limitar a expansão abusiva da personalidade, é o
artifício mais desgraçado que se podia inventar.
Pregue-se e
exija-se do indivíduo medida e disciplina, mas que nasçam da sua própria
harmonia. Institua-se uma ética com raízes no mesmo chão onde o homem caminha.
Miguel Torga,
1907/1995
Escritor e poeta, nascido em Portugal
Escritor e poeta, nascido em Portugal
======================
GRÁFICA COLOR 7
Tel. 3147 8910
Nenhum comentário:
Postar um comentário