É o fim que confere
o significado às palavras
Apenas as palavras
quebram o silêncio, todos os outros sons cessaram. Se eu estivesse silencioso,
não ouviria nada.
Mas se eu me
mantivesse silencioso, os outros sons recomeçariam, aqueles a que as palavras
me tornaram surdo, ou que realmente cessaram. Mas estou silencioso, por vezes
acontece, não, nunca, nem um segundo.
Também choro sem
interrupção. É um fluxo incessante de palavras e lágrimas. Sem pausa para
reflexão. Mas falo mais baixo, cada ano um pouco mais baixo. Talvez. Também
mais lentamente, cada ano um pouco mais lentamente. Talvez. É-me difícil
avaliar.
Se assim fosse, as
pausas seriam mais longas, entre as palavras, as frases, as sílabas, as
lágrimas, confundo-as, palavras e lágrimas, as minhas palavras são as minhas
lágrimas, os meus olhos a minha boca.
E eu deveria ouvir,
em cada pequena pausa, se é o silêncio que eu digo quando digo que apenas as
palavras o quebram.
Mas nada disso, não
é assim que acontece, é sempre o mesmo murmúrio, fluindo ininterruptamente,
como uma única palavra infindável e, por isso, sem significado, porque é o fim
que confere o significado às palavras.
Samuel Beckett,
1906/1989
Escritor e dramaturgo, nascido na Irlanda
Escritor e dramaturgo, nascido na Irlanda
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SOPA DE CEBOLA
Boletim de Arte e Cultura
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