És linda
És linda. E nem
sabes quantos pedaços de beleza tive de juntar para chegar a esta conclusão.
Para te construir,
tive de misturar a conspiração das searas com a tristeza do choupo, a
inquietação da cotovia com o cheiro lavado do vento do ocidente. E a firmeza
repartida dos livros, com a alegria explosiva dos miosótis e a luz escura das
violetas. Juntei depois um pouco de ansiedade das estrelas, a paciência das
casas à beira da falésia, a espuma da terra, o respirar do sul, as perguntas de
gesso que se fazem à lua. Acrescentei-lhe a canção das margens e pequenos
pedaços da angústia do olhar.
Não esqueci a
intimidade do frio nem a dor branca que habita o coração dos muros. Por fim,
deitei na tua pele o sono dos alperces, aos teus músculos prometi a violência
das cascatas, no teu sexo acordei a memória do universo.
A tua beleza está
no meu desejo, nos meus olhos, na minha desigual maneira de te amar. És linda,
repito. Mas tenta não encarar o que te digo como um elogio.
Joaquim Pessoa,
Poeta, nascido em 1948, em Portugal
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OFICINA DE TEATRO
Casa da Cultura
Início: nesta quinta-feira
dia 18, às 19 h
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