terça-feira, 23 de fevereiro de 2016


Quando eu leio

Quando eu leio eu viajo, eu amo, eu odeio, eu me emociono, eu choro, eu enrubesço.

Se eu leio, eu sonho, eu conheço, eu penso. Quando eu leio, eu passo, eu fico, eu esqueço. Eu imagino, eu acabo, eu permaneço: fujo, ando, volto, tropeço.

Se eu leio eu adormeço, eu me entristeço, eu me alegro, eu corro, eu desapresso. Eu apareço e desapareço.

Quando eu leio, eu invejo, eu enlouqueço. Eu acostumo, eu elucido, eu duvido, vivo o que não tinha feito.

Lendo, invento verbos não escritos: democratizo, desautomatizo, arborizo, ouço-vejo. Leio porque me abraço, porque me protejo. Leio porque me encorajo, me envergonho, me orgulho: extasio, amanheço. Ler é mais do que tudo um ótimo jeito de simplesmente estar e ser: acordar/dormir, avançar/retroceder. Leio porque eu faço tudo enquanto eu nada faço: abro e fecho os poros ao mesmo tempo.

Ora, ler seria, para quem leu, uma questão de pele. Uma questão de corpo, o poroso órgão da alma em tudo semelhante a um livro. Leio porque lendo conheço esse verbo total. Experimento todas as palavras escritas e as que estão por escrever. O verbo feito mundo é então a casa de portas abertas onde morro e vivo: sou o livro onde cada página da vida não tem fim ou começo.

Então eu leio e leio de novo e me sinto viva para a grande novidade do mundo.

Márcia Tiburi.
Artista plástica, professora de filosofia e escritora,
nascida em Vacaria, RS, em 1970

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GRÁFICA COLOR 7

Tel. 3157 8910

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