A cada virtude corresponde um vício
Habituo-me
a só pensar bem dos meus amigos, a confiar-lhes os meus segredos e o meu
dinheiro; não tarda que me traiam.
Se me
revolto contra uma perfídia sou eu, sempre, a sofrer o castigo. Esforço-me por
amar os homens em geral; faço-me cego aos seus erros e deixo, indulgente ao
máximo, passar infâmias e calúnias: uma bela manhã acordo cúmplice.
Se me
afasto de uma sociedade que considero má, bem depressa sou atacado pelos demônios
da solidão; e procurando amigos melhores, acho os piores.
Mesmo
depois de vencer as paixões más e chegar, pela abstinência, a uma certa
tranquilidade de espírito, sinto uma auto-satisfação que me eleva acima do
próximo; e temos à vista o pecado mortal, a vaidade imediatamente castigada.
Como
explicar que toda a aprendizagem de virtude dê origem a um novo vício?
August Strindberg,
1849/1912
Romancista e dramaturgo, nascido na Suécia
Romancista e dramaturgo, nascido na Suécia
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