terça-feira, 2 de fevereiro de 2016


A esquerda e a direita

Os políticos que se dizem de esquerda, por ser o bom sítio de se ser político, estão sempre a afirmar que são de esquerda, não vá a gente esquecer-se ou julgar que mudaram de poiso.

Mas dito isso, não é preciso ter de explicar de que sítio são os atos que a necessidade política os vai obrigando a praticar.

Como os de direita, aliás, que é um lugar mais espinhoso. O que importa é dizerem onde instalaram a sua reputação, na idéia de que o nome é que dá a realidade às coisas. E se antes disso nos explicassem o que é isso de ser de esquerda ou de direita?

Nós trabalhamos com papéis que não sabemos se têm cobertura, como no faz-de-conta infantil.

Mas o que é curioso é que o comércio político funciona à mesma com os cheques sem cobertura. E ninguém tira a limpo esse abuso de confiança, para as cadeias existirem.

 Mas o homem é um ser fictício em todo o seu ser. E é precisa a morte para ele enfim ser verdadeiro.


Vergílio Ferreira,
1916/1996
Escritor, nascido em Portugal


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